Jamille Alves's profile

Portfólio Bartira Dias



SUMÁRIO
1. EX-DRÓGENO: Deslocamentos
2. EX-DRÓGENO: Planta Artificial
 3. EX-DRÓGENO: Outr_
 4. EX-DRÓGENO: O dentro da pele para fora do ar
 5. EX-DRÓGENO: De fora pra dentro o ar circula
 6. KALU
 7. LIVRE-SI
 8. NECESSITO DE SENTIMENTOS
 9. BICICLETAS LIVRES
 10. MULTIPLICADOR
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1. EX-DRÓGENO: Deslocamentos



 Na busca incessante pela mudança, o Ex-drógeno mistura elementos que é próprio da natureza para se artificializar, bem como usa dispositivos artificiais para se naturalizar. Desta forma ele intervém criando linhas de fuga, desconforto e desvios, criando micropolíticas de resistência ao processo de espetacularização das relações entres as pessoas desenvolvidas na Urbe. Ele é uma desconstrução de rótulos e de perfis normativos, vindo a ser ritual para a criação de um mundo novo em lugares além do urbano.
O Ex-drógeno se-experimenta em performances que busca um corpo exterior ao homem. Ele é dividido em cinco séries em que cada uma é composta por quatro performances propostas e exercidas pela artista, o que resulta num total de vinte delas. Descolamentos I foi a primeira a ser realizada.


 Mulher sentada em uma cadeira começa um processo de depilação do corpo inteiro. Primeiro faz uso de uma tesoura (já que tem bastante pelos em seu corpo), e por último se utiliza de uma gilete para que não haja mais nenhum cabelo. Terminada a depilação, passa cola em seu rosto e põe todo o pelo cortado, cobrindo sua face.

Deslocamentos II: Já despida de pelos, a performer passa a cortar seus cabelos e depois raspa a cabeça. Em seguida ela esfrega os pelos com cola nos seios, nas axilas, na vagina e também nas pernas.



2. EX-DRÓGENO: Planta Artificial



Mulher nua põe cola em todo o corpo como se fosse creme hidratante e sai rolando por entre folhas no Parque do Cocó, cidade de Fortaleza. Ela vai subindo em árvores, experimentando lugares, deslocamentos e a vida como planta artificial.

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3. EX-DRÓGENO: Outr_


Performance realizada na Mostra Sesc Cariri, 2013. 
Um homem e uma mulher estão nus, de mãos dadas, com seus rostos cobertos por capuzes brancos. Entre os banheiros feminino e masculino, abaixo das placas que identificam os sexos, os dois performers começam a ser pintados de batom vermelho por um terceiro artista. Quando terceiro, depois de pintá-los completamente, chega às mãos "atadas" uma à outra, os performers encapuzados soltam suas mãos e tiram os capuzes que lhes cobrem as cabeças. Ao fazerem isso, começam a pintar seus rostos e abraçam-se ao terceiro artista e o pintam inteiramente. Em seguida, convidam outras pessoas a se pintarem, invadem os banheiros, pintam os sexos das figuras que diferenciam meninos e meninas, e assim, se libertam daquilo que os limita enquanto homens e mulheres bem como seres heteronormativos.


4. EXDRÓGENO: O DENTRO DA PELE PARA FORA DO AR



 O dentro da pele para fora do ar constitui uma das performances de transformação corporal da série Ex-drógeno (pesquisa que se dá com a invenção e criação do corpos exteriores ao homem, iniciada em 2012 por Bartira Dias). des-significando o elemento bunda como ordem objetal da sexualidade feminina brasileira.

A performer busca criar novas relações com o corpo, questionando o uso dele enquanto mercadoria, a banalização e a violência de gênero que se dá nesse processo e que são subestimadas na sociedade brasileira. Com o corte da pele se faz o corpo desfigurado, isento de um ideal de beleza nunca sociedade machista camuflada. O "bife" é vendido numa irônica expressão da violência, onde o dentro da pele se põe para fora, como carne morta barata, no valor de R$ 9,90. 
A pele que fica para além da superfície, se livra do padrão e se permite a desconstrução do corpo, do belo e do prazer normalizados, se dando o que pensar a própria vida.



5. EXDRÓGENO: DE FORA PARA DENTRO O AR CIRCULA​​​​​​​


 Performer fica em estágio de sonolência por sete horas, deitada em uma maca, apenas com as nádegas expostas, o resto do corpo é coberto por lençóis brancos, em um banheiro do Centro Cultural Dragão do Mar, na cidade de fortaleza, durante o Festival Ponto.Ce. Dentro do banheiro são colocados inúmeros materiais que vão desde coisas agradáveis (argilas, hidratantes, água...) a materiais cortantes (facas, máquina de tatuar...) e outros que queimam (pirógrafos, cigarros...) para que as pessoas, ao entrarem no banheiro, possam fazer uso deles na parte do corpo exposta da artista. Na entrada do banheiro há instruções que os indivíduos devem seguir ao entrar, e do lado de fora, ficam duas pessoas que tiram as dúvidas dxs participantes, cuidam da artista e registram o trabalho durante as sete horas. Os registros ocorrem antes e depois da entrada de cada pessoa. Registra-se os rostos das pessoas antes de entrarem no banheiro e depois de saírem, bem como as intervenções depois de feitas. Não há câmeras no banheiro e as pessoas só entram uma a uma. Vale salientar que a porta, depois que alguém, permanece fechada até a sua saída.

Conceito: Nos pós da vida, trabalho alienado é superado pela vida dopada, os excedentes da economia traja o corpo de alheio. O corpo nunca tido se dá na angústia do ter para acontecer, receber para espelhar, se dando sem doar, se mostrando sem se ver. E assim, um dia todo é acrescido de mais uma hora, de infinitude de corpos que transitam em outros corpos e lugares, esperando dar ao corpo o que ele pode nos limites da reciclagem. Indiferentes, dopados, sonolentos, hiperhipotudo, e ou menos gente, perpetuam o diagrama "excitação-capital-frustração-excitação-capital". Nessa perspectiva, a artista buscar pensar as relações de poder que se dão quando o corpo se torna fragmentado, mostrando-se alheio, quieto, isolado, à disposição. 

Ficha técnica:
Bartira Dias - Invenção, produção e artista performer.
Lucíola Feijó: - Cuidadora e registros.
Paulo Winz - Cuidador e registros.



6. KALU
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Artista fica em postura meditativa, padmásana (postura da flor de lótus, usada na Yoga), dentro de um triângulo eclipsado luminoso, desenhado por velas acesas, que lembra
uma vagina. E neste estado vai banhando a cabeça com cada vela, deixando a parafina líquida escorrer no couro cabeludo até apagá-la. E só assim devolve a vela para o seu
lugar, já apagada. Vai pegando uma a uma, até não sobrar mais nenhuma. 

“Algumas velas, no caso 5, não consegui pegá-las, pois já
estavam quase que totalmente derretidas, mas uma delas
ficou acesa até o fim. só finalizaria o ciclo, depois que
todas apagassem, mas uma ficou acesa e não se apagou.
Fiquei lá dentro da vagina, esperando todas se apagarem. O
público já havia ido embora, eu permaneci com a última vela
acesa e compreendi, que aquela sou eu que terei que apagar,
sou eu que terei que intervir e determinar o seu/meu curso.
Não pensei no número de velas que ia pôr, pensei apenas em
compor uma vagina com o desenho escrito de velas acesas.
foram 35 velas, um ano a menos da minha idade, ainda vou
deixar os 36 completos, por isso é como se ainda faltasse
uma, a que não se apagou. a que estou vivenciando ainda, e
em algum ano da minha vida, eu talvez tenha perdido esta
percepção do tempo que leva e se deixa, do tempo que eu
recolho e me deito, do tempo vivido e daquele que adormeço.
A mulher precisa lutar muito pra determinar sua vida e seu
tempo.
Foram 35 falos brancos a pingar seu prazer/ dor em mim
nesta performance e houveram e haverá muitos outros
escolhendo ou não, querendo ou não. Estes falos acesos
apagam minha vagina, mas sempre haverá algo que não pode
ser apagado e é daí que tiro a minha força!
Recebi esta performance em um bailado que fui no Daime no
ano de 2018, tentaram acender minha vela quatro vezes, mas
ela não ascendia. Talvez por eu sentir que eu que devia
acendê-la...
E foram exatamente quatro velas que apagaram derretendo sem
que eu conseguisse pegá-las. Peguei 30. E uma não consegui
pegar e ela também não se apagou por mais derretida que
tivesse.
Algumas coisas eu entendo e sinto, outras... Fiz esta
performance grávida de 4 meses. minha sétima gravidez,
depois de duas semanas desta performance, sangrei e o bebê
estava morto em meu útero. Foi o quinto aborto e cinco
velas que não consegui tocar. “

7. LIVRE-SI

 Performer sai pelas ruas do centro com uma placa pendurada por arames farpados em volta do seu pescoço. Lê-se a palavra "Livre". A mulher circula em lojas, para, observa, como se fosse uma coisa em vitrine.

Dia da Mulher, Fortaleza - 2012.



8. NECESSITO DE SENTIMENTOS


Performer entra no ônibus na cidade de Crato e leva consigo apenas pedaços de papelão em que há escrito: "Boa tarde! Estou com um problema sério de saúde e necessito, urgente, de uma doação. Não consigo mais sentir. Preciso urgentemente de sentimentos. pode ser qualquer um que você não use mais ou que sobre em você ou que não queira mais sentir. Grata pela atenção."

Durante o percurso no ônibus, a artista fica em pé, sem se agarrar a nada e para cada interação com as pessoas que circulam no transporte, ela se movimenta de acordo com o que estas transmitem de sensações.

Performance realizada durante o Laboratório de Análises do Corpo em Espaços Públicos, ministrado pelo artista Santiago Cao, em agosto de 2014, na cidade do Crato.


9. BICICLETAS LIVRES


Tintas brancas são colocadas nos pneus de bicicletas desenhando o chão da rua Santo Antônio, no Benfica, e na Av. da Universidade, em Fortaleza. São 6 bicicletas fechando o trânsito deixando seus rastros através dos pneus, movimentos circulares, retilíneos, formando desenhos. Pouca gente em ação, ocupando ruas e avenidas, no asfalto, a tinta branca no pneu gera uma dança.


10. MULTIPLICADOR


Na praça, esta intervenção se deu a partir da greve policial em Fortaleza (final de 2011 ao início de 2012), ela é feita a partir de elementos que contribuem para o preenchimento de espaços vazios, e estes espaços vazios se fazem no uso de lençóis brancos a ocuparem o chão da Praça do Ferreira, substituindo suas pedras por lençóis, onde ao invés de pisar o chão, as pessoas são levadas a sentarem para escrever suas indignações em panos brancos. Na ação há vários lençóis brancos, de onde as pessoas são convidadas a exporem suas indignações nestes, finalizando numa releitura da obra Divisor da artista Lygia Pape, onde num grande lençol branco (remendado) as pessoas se cobrem expondo apenas as cabeças para cima. O multiplicador não foi finalizado, ele foi transformado e continua em processo.
Na ação Multiplicador , os corpos das pessoas são cobertos pelo lençol pichado, e são expostas as cabeças das pessoas com máscaras brancas. Depois da ação, o multiplicador se tornou um grande tapetão para acampados indignados na Praça do Ferreira, além disso ele foi usado em algumas manifestações políticas e como um processo de criação de mito, numa guerrilha psíquica.


Mini-bio


Mãe de Inaiê e Dandara, artista cratense, caminhante, performer, artivista e poeta delirante. Vivendo em trânsito, dos interiores sertanejos às praias. Anarquista dançante e nômade. De formação é doutora e mestra em Educação brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em que trabalhou temas como Arte, Resistência, e
Performance como possível (sub)metodologia para pensar as diferenças de gênero, classe e raça no espaço científico acadêmico. Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) onde iniciou uma pesquisa sobre arte e loucura, culminando no Livro Noor em Nós (2010), premiado pelo edital de Autor(a) Cearense Caetano Ximenes Aragão (Poesia), que busca trazer de forma poética, a
experiência vivenciada com mulheres internadas no Hospital de Saúde Mental de Messejana (HSMM)em Fortaleza, no ano de 2005. Fez parte do Primeiro Programa de Pesquisa de Linguagem em Artes Visuais através do Vila das Artes na capital cearense em 2011, e finalizou o curso de Princípios básicos de teatro no Teatro José Alencar (TJA) na mesma cidade. Trabalha com a linguagem da Performance desde o ano
2002 e integra os coletivos de arte e ativismo (artivismo) feministas XanasrecitamXanas e PARE (Provocação Artística Ritual Experimental).

Portfólio Bartira Dias
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